terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Plínio

Plínio era um cara estranho, caminhava sempre com a cabeça baixa, parecendo pensativo ou apenas alguém que analisa o chão em que pisa. Qualquer um que passasse por ele sentia alguma simpatia pelo grau de introversão que ele demonstrava, talvez estivesse pensando na vida, em planos futuros, na previsão do tempo ou em um jogo de futebol, mas não era isso que ele pensava.

Na verdade, a cada passo Plínio imaginava uma forma diferente de morte para si mesmo, de acordo com o que seus olhos acompanhavam. Ao encostar-se em um parapeito, não conseguia deixar de ver seu corpo se projetando em direção ao vazio, desgarrado até o último e patético impacto em que se transformaria em uma massa disforme. Ao se deparar com um bloqueio policial, sempre visualizava um dos uniformizados confundindo sua aparência com um criminoso e alvejando sua cabeça com uma bala. Sentia a sensação da bala atravessando, de seu carro perdendo o controle e se abrindo em algum poste.

Passava seus dias imaginando a sua própria morte, com curiosidade e criatividade além do desejado, quanto mais alimentava sua morbidade, mais fascinado ficava pela mesma. Tornou-se cada vez mais isolado, arredio ao contato de outras pessoas e menos esperançoso, via a sua morte e com o passar do tempo a morte de outras pessoas ao seu redor, em uma eterna repetição fúnebre.

O mais estranho de tudo é que não havia prazer, imaginava por imaginar, pura e simplesmente, tinha seus sonhos tomados e não conhecia outra forma de pensar ou viver. A cada noite mal dormida, povoada por sonhos estranhos e pesadelos, via como sua mente definhava, suas esperanças morriam junto a sua alegria. Era agora uma casca vazia, um simples projetor de morbidade, alguém que quando fosse finalmente esquecido, seria uma mácula a menos na já tão desgraçada humanidade.

3 comentários:

Nil disse...

Passava seus dias imaginando a sua própria morte, com curiosidade e criatividade além do desejado...conheço bem isso :P

Anônimo disse...

Eu não imagino minha morte, mas sempre penso como seria se eu morresse... Quem iria ao meu enterro? Quem sofreria? Quem choraria? Meio carente isso, né? o_O

Unknown disse...

ENGRAÇADO QUE, MUITAS VEZES AS PESSOAS SE PEGAM PENSANDO NESSE TIPO DE COISA....... MORBIDO DEMAIS