quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Uma noite em um bar

Com o fim de mais um dia e o início de uma nova noite, comecei a ficar inquieto. A agitação e minhas inquietudes tinham nome, mas deixei para lá. Na esperança de espairecer e tranqüilizar meus pensamentos, caminhei por ruas e avenidas. Passei de forma rápida por shopping centers, lojas desarrumadas e botecos sujos, perdidos.
Após horas de caminhada encontrei um lugar onde descansar. Rapidamente sentei-me na mesa da calçada, no intuito de ver um pouco do que a vida ainda oferece. As horas se passavam com a minha tentativa sistemática de analisar cada um dos que passavam por mim, com especial cuidado com as mulheres. Loiras, morenas, ruivas, negras e asiáticas, uma a uma elas se revezavam passando pela frente da minha mesa. Não que eu fosse propriamente um imã de mulheres, mas é que minha mesa ficava bem no caminho dos demais passantes.
Após a empolgação inicial, o tédio começou a se alastrar, observar mulheres bonitas em uma eterna procissão, com suas bundas empinadas, saltos e vestidinhos decotados, já não me satisfaziam. Saquei de meu celular e comecei a pesquisar os números da agenda. Pessoas que não via, que eu havia me esquecido, pessoas ternas, idiotas ou simplesmente substituíveis se alternavam no meu visor.Passei a meia hora seguinte pensando em cada uma delas, como parte do que sou, das pequenas histórias da minha vida que contaram com a participação daquelas pessoas.

Cansado desta nova invenção, com a bexiga cheia e desesperado por um banheiro, retirei-me de minha mesa com todo cuidado - quando se está sozinho não costuma ser aconselhável deixar seus pertences por aí. Caminhei de forma engraçada, ao menos para os que me acompanhavam, pernas dançando como se uma ventania tivesse tido origem dentro do bar.
Entrei no banheiro, caminhei até o mictório e apoiei minha mão na parede. Para ser sincero, fiquei inconformado com a quantidade de pôsteres de mau gosto que vi, macacos sentados em pinicos, outros mostrando as gengivas com pose de caçador, em suma, mal gosto diabólico que acabou dando “neura” em mim que já estava trêbado.
Dever cumprido, retornei a minha mesa. Agora era a hora de recarregar as baterias, colocar fim na bebedeira, afinal minha mulher me aguardava em casa. Pedi ao garçom uma coca e a coisa mais engordurada, nojenta e ultrajante que existia naquele cardápio sujismundo. Quando meu prato chegou, comi com voracidade, sentindo cinco anos da minha vida morrendo, minhas artérias se entupindo e a sensação de que meu tubo digestivo recebia graxa ou qualquer outro lubrificante graças ao meu quitute. A coca era a única coisa agradável, tinha chegado no ponto que eu gosto, sem estar estupidamente fria.

Finalmente levantei, passos lentos e ruidosos, acompanhado apenas pela luz dos postes acima de mim. Caminhei com segurança apesar de tudo, na minha cabeça a única coisa que eu tinha para ter perdido já se fora. Ao chegar, abri minha porta, com a sapiência de colocar o dedo ao lado do buraco da fechadura, como forma de não errar o buraco – é, eu ainda estava bêbado -, tirei os sapatos, com um passo após o outro com o máximo de cuidado possível.

Passados quinze minutos e após vistoriar cada um dos quartos, percebi que estava sozinho, quem quer que tenha existido por lá, já havia saído há muito tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Triste... >_<