sexta-feira, 9 de maio de 2008

A Rainha dos Malditos

Palavras apaixonadas saíam de sua boca, plenas de sabedoria, bondade e força, como se nenhuma outra coisa pudesse se expressar por meio de seus lábios. Doce, altiva e cruel, ela sabia que nunca deixaria de ser aquilo a que estava destinada. Todos paravam para ouvi-la, ansiosos por um pouco de mel em suas vida tomadas pelo fel cotidiano, esperançosos de que junto com aquela voz melodiosa chegasse aos seus ouvidos também algo novo, que os libertasse do jugo cruel da existência.

Pessoas vindas de cidades próximas também se acotovelavam para vê-la, um raio de luz na escuridão, uma voz que embalava os sonhos despertos de descrentes, perdidos e malditos. Incutia também amor nos homens e nas mulheres, que se maravilham com sua bela aparência, com cabelos longos, cacheados e dourados, sua altura, considerável para uma mulher, e um sorriso lindo.

Todos os dias as 10 da manhã ela iniciava seu ritual, abrindo a porta de sua casa, que ficava a poucas quadras do centro da cidade, caminhando sem pressa em direção ao centro. Muitos a cercavam apenas estonteados e incapazes de coisa alguma que não fosse a contemplação. Cada passo parecia calculado, e em momento algum ela baixava seu olhar, como se tivesse decorado cada percalço, cada pequena falha no calçamento que a conduzia ao seu lugar.

Uma vez tendo chegado à praça central, caminhava entre os vendedores, as putas e os mendigos, sorrindo a todo momento, sendo conduzida por seu obsequioso séquito. No centro da praça estava seu palco, local de anúncios e leilões, mas que naquele momento era seu trono, o lugar onde era senhora e rainha de todos os malditos.

Quando ela começava seu discurso, que podia ser sobre qualquer coisa, as nuvens se abriam, o clima tornava-se agradável, a dor, a fome e o desespero desapareciam. Ela era a senhora de todos, e sua punição mais exemplar, seus 30 minutos de fala enchiam de alegria os pobre corações que pouco depois retornavam a suas vidas miseráveis e desgraçadas e ela se recolhia mais uma vez. Era apenas uma lembrança de que algo melhor poderia existir, um alívio para que os escravos desta realidade continuassem seu trabalho, uma forma de mantê-los acorrentados.

Um comentário:

Tie disse...

The queen of the damned...

=P