segunda-feira, 3 de março de 2008

Clichês...

..ou, Um pequeno texto sobre nada.

Estava tremendo, o suor escorria de sua testa. Seu corpo estava quente, sua mão tremia. Finalmente a overdose de comprimidos fazia efeito. O mundo girava. Seus olhos estavam embaçados. Apagou.
Pegou-se voando, viu um hipopótamo voando a seu lado, espelhos escorriam pelos cantos, escrivaninhas atacavam violoncelos. Marilyn Monroe furada a bala sorria para ele. O mundo girava. Porra – pensou ele, até nas minhas alucinações não consigo ser original. Uns tomam ácidos e vem portas, outros fumam ervas e vêem Deus. Eu tomo Valium e o que vejo, Machado de Assis, Dali, Miró e Andy Warhol. Puta que o pariu, é por isso que me matei – terminava o pensamento. Continuou vagando por alucinações de outras pessoas. Talvez a vida pós a morte seguisse a vida.
A vida dele podia ser resumida em dois, no máximo três clichês de filme de sessão da tarde. Seus romances podiam ser cantados com toda a graça e sutileza das músicas de grupos de pagode. Seu emprego era de contínuo. Tinha um gato, vivia sozinho num apartamento desarrumado. Na geladeira só tinha cerveja.
Tudo isso foi apresentado pela ex-mulher, somado às observações in loco dos policiais, ao delegado responsável pelo caso. Este depois de ouvir tudo e muito pensar, concluiu que o que ocorreu foi um suicídio. Fechou o botão da camisa, cobrindo o crucifixo dourado, cospiu o palito do canto da boca, tirou o chapéu da cabeça e o segurou na frente do peito. Feito isso olhou paras as pessoas presentes na sala e propôs um minuto de silêncio, uma vez que ali não morrera somente mais um cidadão, mas sim uma referência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa...