Armando era um cara legal, desses com quem você pode passar uma noite inteira conversando sobre amenidades, sem perder o interesse ou sentir-se entediado. Trabalhava em uma pequena loja de brinquedos, das poucas que ainda restavam pela cidade, 10 horas por dia, em uma labuta sem fim. Sua ocupação fora da loja era beber sentado em qualquer botequim, colecionar selos e pintar.
Nos últimos 5 anos mudou de companhia regularmente, poucas eram as que agüentavam suas manias, indecisões e paixões. Explicar a uma mulher o motivo pelo qual tinha praticamente dobrado o turno na véspera do natal e em seguida encontrar-se com os amigos para uma boa cerveja, tinha sido o fim de seu último relacionamento. Contudo, continuava esperançoso e feliz, aguardava de forma paciente por uma nova oportunidade, uma nova mulher para tornar seus dias mais doces.
Ao final de mais um dia de trabalho quase ao encerrar seu expediente, uma última cliente se aproximou do caixa. Era alta, cabelos escuros e sorriso perfeito. Armando logo notou a beldade que estava próxima a ele, mas irritado por saber que não tinha a menor chance, tratou-a de forma seca e áspera. Ela como resposta apenas olhou em seus olhos de forma tensa, sem entender o que ocorria.
Sentindo-se desafiada pela postura de desprezo e agressividade que Armando emanava, ficou intrigada, como alguém que se sabia tão bela podia ser ignorada por um reles atendente de loja? Decidida a reverter a situação, ao pagar sua conta, passou a fitar seus olhos e fez questão de toca-lo ao receber os pacotes. Como forma de criar um vínculo que fosse, se despediu de maneira pouco formal pedindo que ele a chamasse de Laura.
No dia seguinte, a caminho do escritório, ela se olhava no espelho do elevador - cabelos presos em um coque, meia fina, salto baixo e Tailleur, sentia-se impecável. Sorriu para si mesma e passou a manhã inteira com a lembrança de que algo, ou melhor, alguém tinha surgido para ela no dia anterior. A atitude de desprezo tinha quebrado sua aparente frigidez, demonstrada a tantos homens diariamente.
Laura era advogada, solteira e capaz de contar nos dedos de uma só mão a quantidade de vezes que havia se interessado realmente por alguém. Vivia sozinha em um pequeno apartamento com suas flores. Amava mais do que tudo a liberdade que tinha e procurava mantê-la a todo custo, e por conta disto seus últimos relacionamentos haviam naufragado. Sabia-se bonita e por diversas vezes se utilizava dessa beleza para que portas fossem abertas, pneus trocados, pintura nova, entre outras coisas. Mas nos últimos tempos sentia-se triste, a solidão e a falta de perspectiva amorosa a tinham tornado mais apática.
Suas visitas à loja tornaram-se freqüentes, com Armando que ainda se recusava a acreditar que qualquer coisa fosse possível e com as investidas de Laura cada vez mais fortes. Depois de seguidas visitas e Armando ficar sem entender por qual motivo ela continuava freqüentando a loja, Laura ficou decepcionada ao perceber que era outro vendedor que atendia, que Armando não estava ali, ao menos aparentemente. Quando já se preparava para sair, viu seu objetivo sair atrapalhado do estoque, carregado com mil caixas diferentes e um mau humor aparentemente demoníaco.
Armando mal dormira aquela noite, desejava aquela estranha mulher e se excitava todas as noites pensando em tornar crível uma fantasia que sabia impraticável. Tinha saído da loja pensando em alguma forma de entrar em contato com ela, só não sabia como. Usar o cadastro da loja para ligar para alguém parecia insano, o vexame de que ela não se lembrasse dele ou da loja, até mesmo a falta de um sinal por parte dela de interesse, tornavam proibitivas quaisquer formas de contato. Mas logo ele a viu, fechou seu semblante e se preparou para alguns momentos de muda tentação, de se mortificar com a excitação e atração que ela exercia sobre ele.
Os dois estavam meio constrangidos ao se cumprimentarem, desejos mudos aturdiam os dois naquele momento. Ele a ajudou a escolher uma lembrança que ela dizia ser para sua sobrinha, sem desgrudar seus olhos dela ou de alguma parte que a pertencia por um segundo que fosse. Laura decidida a provar para si mesma ainda ser capaz de exercer domínio sobre outro homem, decidiu avançar, roçando por cima da calça a excitação de Armando, que sem entender bem o que fazer, simplesmente a puxou para o estoque.
Juntos, se livraram das roupas de forma rápida, se entregando a uma luxuria que estava represada desde o primeiro momento em que se olharam. Com as mãos apoiadas na parede, Laura se sentiu possuída e feliz por sentir que ainda era desejada, quanto a Armando, agia por puro instinto, mesmo sem saber o que acontecia.
Os dois chegaram ao clímax sem conseguir conter os barulhos decorrentes. Saíram separados do estoque com um pequeno intervalo entre os dois. Mesmo assim não conseguiram disfarçar certo constrangimento ao se deparar com fregueses ou outros funcionários da loja.
(Continua)